quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Quando o sujeito se deixa aproximar, a sua vulnerabilidade cresce, anseia por atenção que, até então, nunca veio conhecer.

Simão era assim, um tipo pouco encorajado na vida, entediava-se com o acordar e evitava o deitar, sabia o quanto as horas lhe pesavam, ao fim do dia corria durante horas, para que o tempo lhe voasse, chegando a casa, completamente imundo, formava ideias debaixo da água quente, só aí conseguia sonhar, com o possível conforto da sua existência.
Tudo era passageiro, tal como esses banhos, e aí, ao calçar as peúgas velhas e o seu roupão que outrora pertencia a seu pai, Simão se aposentava no sofá, fixava a televisão desligada e em brutos suspiros, clareava tudo o que lhe vinha ao  pensamento, nada, era o que ele queria, nada.
 Sem sombras de outras existências, nem comia, achava o cozinhar uma treta e o levantar o braço uma canseira. Apenas gemia, contraía-se como se estivesse numa camisa de forças, não permitia que a vida lhe tocasse, jamais.
A sua casa era como se fosse assombrada, pois ocupava apenas uma divisão, a que lhe intitulava divino tormento.
Simão percorreu o corredor e a meio estendeu-se no chão, uma espécie de oração tortuosa, caminhou como se fosse um réptil e chegando à porta, que dava para a rua, murmurou, não quero mais viver, não quero mais ver passar os dias que transformados em anos, que mal dou conta, são inúmeras facas que falham o meu coração, quero antes crer que amanhã vai ser diferente, quero ansiar qualquer coisa, quero sentir o sangue correr-me nas veias e que a água mate a minha sede, quero conseguir mover os olhos e congratular tudo o que me rodeia, mas não, não quero adoecer.

1 Comment:

la folie

O Simão saíu da esquina da felicidade :)

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